segunda-feira, dezembro 05, 2011

Maiêutica sem Sócrates

Desde que o Jornal do Vilafranquense acabou, que a minha crónica desportiva se cingia ao comentário facebookiano de esparsas polémicas futebolísticas. Hoje, no entanto, porque há um mundo sem Sócrates (Brasileiro), volto ao exercício de conciliação da dança das palavras com a dança dos relvados.

Não me recordo de Sócrates em actividade. Em 1982 não tinha idade para filosofias e em 1986 o futebol era para mim uma ciência que se extinguia no aproximar o meu pé esquerdo a uma bola demasiado pesada e no retraçar a dentes de leite a mascote do Mundial do México que servia de porta-chaves ao meu irmão Ricardo (ou seria do Evaristo?). Mas a imagem de Sócrates impôs-se: o irmão do Raí (o do PSG nos anos 90) era termo de comparação - "este é bom, mas não se compara ao Sócrates!" -, ou, em definitivo, um exemplo a seguir mais carismático do que o João Luís (?) que foi lateral do Sporting nos finais dos anos 80/ início dos anos 90, os dois apresentados como referências de que seria possível conciliar medicina e futebol profissional. A bem de alguma coisa, acabei por abandonar as duas vocações infantis a tempo! E depois, as imagens: aquela elegância "'tou nem aí" de jogar de calcanhar, a fluidez dos movimentos, da corrida, a colocação do remate e aquele jeito meio estranho de cerrar o punho para celebrar um golo, lembrando que uma imagem de força pode ser utilizada como comemoração, provando que a força é também ela, por força de o ser, fonte de alegria. E pois, enfim, a política - Democracia Corintiana antes de haver algo que se assemelhasse no Brasil, participação dos jogadores na gestão dos clubes, apoio explícito ao movimento "Directas Já!"...

O futebol e os futebolistas em particular apresentam-se, tantas vezes, tão parcos em ideias, que ter existido um jogador assumidamente activo, implicado e coerente, é motivo mais que suficiente para o celebrar, mais uma vez, talvez a última. De punho erguido...

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