quinta-feira, novembro 08, 2012

Do Obama e dos 95 anos da Revolução de Outubro

(Imagem com qualquer coisa de provocador, propositadamente colocada à esquerda).

Confesso que, em 2008, exultei com o fenómeno Obama. Recordo-me do fascínio com a oratória, a agitprop mobilizadora, a esperança e a mudança nas bocas do mundo. Obama ganhou e, no mundo e nos Estados Unidos, não mudou grande coisa. Em 2012, face à possibilidade Romney a encabeçar o fascizante Tea Party, não hesito em me congratular com a vitória do Obama - mas não regozijo, porque não acredito numa mudança radical na política interna e externa dos Estados Unidos. Temo que nos esperam mais quatro anos de capitalismo wallstreetiano, o degradar da esperança e uma série de lutas que, muitas delas, terão na figura do presidente estadunidense o alvo principal - pelo que ordenar, pelo que fizer, pelo que não conseguir fazer e pelo que não quiser fazer.

Ontem, no dia da sua segunda eleição, cumpriam-se 95 anos daquele que foi (para mim, mas não apenas) o momento mais marcante do século XX - o que viria a influenciar todos os processos políticos desse século -, o momento em que, pela primeira vez na história, os trabalhadores fundavam um Estado seu - a Revolução de Outubro, cuja consequência seria a fundação da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
Nas palavras do jornalista americano John Reed "Tinha começado a edificar na Terra um reino maior que o dos céus, pelo qual era uma glória morrer" (in Os Dez Dias que Abalaram o Mundo). E foi isso - a conquista da felicidade na Terra, a antecipação do céu prometido (que correspondia, ontem como sempre, ao adiar da revolta, como se dar a outra face nos concretize em Humanidade), o fim do determinismo de classe e o fim das classes. Ideais belos, justos e sinceros - "o melhor do mundo", que é o que, tantas vezes, nos esquecemos de exigir, enovelados que estamos no pragmatismo da realidade e na emancipação do nosso próprio umbigo. Não me vou debruçar sobre os 75 anos de União Soviética, as suas conquistas e os seus erros - deixo isso para outras discussões, mas temperado com um "Desafio" do Mário Castrim:

Não afianço que a solução
ideal
para a Humanidade
fosse aquela da URSS
(aliás nunca pensei
que fosse o ideal
embora não andasse
longe de o pensar
e paguei caro
pela avaliação
que depois fiz de mim)

Portanto, não digo.
Mas digo que
com todos os erros
e todos os desvios
(e até se quiserem
alguns crimes)
jamais houve na História
sistema que estivesse
mais perto da justiça.
Achas que não? Então diz-me qual foi.
Mas diz.
Não abanes apenas a cabeça.

Faz falta a União Soviética. Ao mundo. Menos ao Obama - que nunca concretizará a ideia da imagem acima, nem se aproximará da ideia de socialismo, por muitos Medicare's que aprove - que poderá continuar a lançar ataques preventivos com drones, a espalhar unilateralmente a hegemonia dos Estados Unidos e a fazer do mundo um espaço cada vez mais inseguro e a alimentar o culto da sua própria personalidade, como um messias (daqueles que fingem que dão a outra face e prometem o céu para depois), não vá a malta lembrar-se de começar a querer alternativas "de facto". Ou será que já não se lembraram disso?