quarta-feira, setembro 09, 2009

Um povo em construção para construir um país que será libertado

“Aqui não crescem plantas nem árvores, mas florescem pessoas”.

Esta afirmação, testemunho de humanismo e esperança, poderia caracterizar toda a população saharaui que vive nos acampamentos de refugiados de Tindouf, na Argélia, com a qual contactámos em Abril último, no âmbito de uma delegação portuguesa dinamizada pelo CPPC.

Voltámos a Portugal há já vários meses, mas, de alguma forma, algo de nós ficou nas tendas e nas construções de adobe das famílias que nos acolheram como se fossemos familiares que voltavam após longa ausência, onde partilhámos a angústia e a revolta daquele povo, mas também a sua esperança e a sua capacidade de lutar por um Sahara Ocidental livre da ocupação marroquina, que se arrasta ilegal e brutalmente há mais de 30 anos.

Tentamos imaginar o que sente um saharaui que, desde 1975, não vê a terra onde nasceu, se vê remetido ao lado lunar da geoestratégia internacional, nas condições terrenas mais agressivas, sem solução à vista; ou o saharaui que, tendo nascido nos acampamentos, sabe que aquele não é o seu lugar, que nada do que possa construir de material ali é verdadeiramente seu.

No entanto, não se pode destacar do que vimos a falta de bens e as condições duras em que vivem, mas sim a capacidade de organização da vida naqueles campos de refugiados, onde tudo funciona com um objectivo maior – o regresso às suas terras, ao seu país. Não um regresso atabalhoado de início de saldos como vemos nas nossas catedrais de consumo, mas um regresso construído, um regresso feito de sangue e suor, de trabalho, de estudo, de sacrifícios de mulheres e homens que dão as suas capacidades, a sua paciência e, não raras vezes ao longo da luta pela independência, a sua vida para que esse objectivo se concretize. Sentimos isso e com essa confiança assumimos como nossa a luta dos que tão fraternalmente nos receberam.

Os portugueses já demonstraram recentemente a sua solidariedade e capacidade de união em torno de um povo que luta pela sua soberania e independência. Trocamos os protagonistas e o Sahara Ocidental é Timor Leste ocupado e Marrocos é a Indonésia ocupante e violadora dos mais elementares direitos humanos. Como com Timor, é necessário unirmo-nos e usar os meios ao nosso alcance para exigir a retirada marroquina e permitir ao povo saharaui assumir as rédeas dos seus destinos. O Sahara Ocidental será livre e poderá contar connosco!


Publicado em "Notícias das Paz", Setembro de 2009