segunda-feira, abril 27, 2015

25 de abril - Sempre não é Demais!

Comemoramos, no próximo dia 25 de abril, os 41 anos do "dia inicial inteiro e limpo", o dia libertador em que os militares revoltosos colocaram um ponto final no estado a que tínhamos chegado, após 48 anos de uma ditadura marcada pelo obscurantismo, pela negação da liberdade de associação, pela repressão, por uma guerra que ceifou milhares de vidas humanas. Homenageamos neste dia, também, o cumprimento do dever de desobediência dos milhares de portugueses que, por todo o país, saíram imediatamente para a rua, apoiando as acções militares e garantindo o carácter revolucionário do derrube do fascismo e da alteração institucional que se seguiu, materializada na Constituição da República aprovada em 1976.
41 anos após esse dia não é demais lembrar que, se hoje temos consagrados o direito a uma democracia política, à segurança social, saúde e educação universais, o devemos aos valores em si inscritos.

Comemorar o 25 de abril não é um exercício de demagogia, de colocar o cravo na lapela à hora marcada e evocar conceitos gerais de redenção, em discursos floridos - que, pelo seu caráter geral, cabem em qualquer boca! Comemorar o 25 de abril é lembrar 41 anos de resistência ativa dos trabalhadores portugueses; é lembrar que os direitos e os deveres que ainda temos a nós os devemos; é lembrar que as liberdades e garantias que a forma da Revolução encerra é o inimigo principal daqueles contra quem a Revolução se fez, tendo-os atacado desde a primeira hora: degradando, lei a lei, governo a governo, mais às escuras ou mais às claras, o que conquistámos com sacrifício (tantas vezes manchado a sangue).
Num momento em que, 41 anos depois, trabalhamos mais e mais horas, recebemos menos pelo nosso trabalho, pagamos mais por serviços que perdem qualidade (e que, muitas vezes, nos negam), em que vivemos a incerteza do dia de amanhã - do médico para quando estivermos doentes à escola para os nossos filhos, ou à reforma para o nosso cansaço -, comemorar o 25 de abril é um acto de Liberdade! Esquecer esta data, por outro lado, é legitimar o roubo a que somos sujeitos, é aplaudir a corrupção que rodeia as privatizações ou o financiamento da banca, é achar normal o desemprego e a emigração, é dar espaço a que, quando todos falam em crise, os ricos continuem a enriquecer e os remediados engordem os números dos pobres.
"25 de Abril, Sempre" não é uma palavra de ordem vazia - a realidade confirma que Abril não é demais! Comemorar o 25 de abril é lutar! E ser solidário com todos os trabalhadores em luta - lutar com todos e por todos! A Revolução que comemoramos tem como responsáveis todos os que lutaram por ela e que a defenderam. O "estado a que chegámos" tem os seus culpados - juntos, iremos derrotá-los e faremos Abril de novo!
excerto de PCPinforma CM/SMAS

segunda-feira, março 16, 2015

Sonho de um dia de greve

Sexta-feira houve greve da função pública! Teve o sucesso devido (de vidro?!), justificado pelo momento e as perspectivas futuras, que justifica o empenho de milhares de ativistas sindicais e o sacrifício dos trabalhadores portugueses.

Ninguém faz, hoje em dia, greve porque sim. O exercício deste direito é toldado pelo medo - o político, de represálias; o medo de tirar salário ao salário cada vez mais curto... Ser displicente com a greve e os grevistas revela soberba (motivada ideologicamente, por incapacidade de se ver para além da sua própria realidade ou pelos dois motivos juntos); ser displicente com todos os que furam a greve, por outro lado, é também não compreender a raíz do medo que o motiva.
Mas há sempre os "engraçadinhos" - os que, cinicamente, dizem "luta lá por mim", na lógica do "vão sem mim que eu vou lá ter", para receber, educado e pronto a sair de casa, o filho dos direitos conquistados (preservados...) - sem preocupações, sem arrelias, sem sacrifícios. E esses dão-me pesadelos.

Na sexta-feira tive um pesadelo. "Pesadelei" que, por artes mágicas (com varinhas de condão, elfos, unicórnios e simbologismos à Merlin), os sacrifícios dos que, por dedicação e vontade, se sacrificaram, tinham consequência - reposição dos salários; horário laboral que permitisse a conciliação de trabalho, lazer e descanso; férias devidas; avaliação justa, racional e estruturada; progressão na carreira condizente com as capacidades. Os outros, os que maldizem os sindicatos e os seus representantes, mas também os que, no fundo de si, se envergonham de furar uma greve (mas que o fazem amiúde), perdiam, paralelamente, os direitos conquistados - até ao início da Revolução Industrial, pelo menos. Imaginem: viver num mundo em que era vergonhoso desdenhar de uma greve porque chegamos tarde ao emprego; onde já ninguém dizia que "o Dia da Mulher é quando um homem quiser"; onde já não fizesse falta "outro Salazar". Há neste pesadelo uma justiça de Antigo Testamento! Mas, de certa forma, uma justiça, ou não enchessem a boca de Grécia clássica os que aludem ao berçário do poder do povo, feito de escravos e senhores. É um pesadelo o Direito dual, em qualquer circunstância histórica - mesmo que, pessoalmente, me beneficiasse.

Felizmente o mundo ultrapassou a fase em que matar o próprio filho era sinónimo de dedicação aos espíritos-santos. E todos os trabalhadores, com ímpetos grevistas ou não, são beneficiados com as conquistas que, ainda, vão resistindo - e sê-lo-ão, com as que forem (re)conquistadas! Infelizmente, quando acordei, a dedicação aos Espírito-Santo continuava secularmente testamentada pelos Cavacos, Coelhos e Portas desta vida, com dilúvios sem barca e dalilas como cabeleireiras. Irão para o museu, sem necessidade de Messias.

A realidade exige muito à insónia!

Vai lá vai, até o Barack Obama!!

Um artigo decente necessita de um título decente - essa é uma assumpção de qualquer romancista, novelista, contista, poeta ou jornalista nas horas vagas. A minha eloquência esgotou-se, enfim, quando citei Rimbaud para dizer que a "moral é a debilidade do cérebro", num post que escrevi há uns anos atrás.
Considero, ainda, que não tenho idade para numerar artigos, à falta de criatividade para inventar novos títulos. É a tal "debilidade do cérebro", mesmo que de moral apenas tenhamos a preguiça ou, de tempos a tempos, a falta de tempo. É isso: falaria de debilidade, se já não tivesse falado disso antes e o corpo não estivesse esgotado pelo realismo dos tempos. Um brinde à anomia! Vivas à boçalidade! Progresso fora! Morte à humanidade! Sejamos, por momentos, a mudança que dispensamos no mundo - o reflexo no espelho do inverso da inteligência!
Peço desculpa a quem ofendi ou ofenderei.
 
O mundo, isso... este elipsoide feito de carbono e minerais, evoluindo continuamente por sua própria inspiração até parir, sem blues, a versão conservadora e totalitária dos Estados Unidos da América! Naturalmente, com deus a seu lado, a evolução da explosão redunda numa comunicação compassiva com a hegemonia global desta potência e o derrube de tudo o que a ponha em causa.
Falaremos de outra coisa ou é preciso ir buscar os lápis de cor? O aprofundamento do império exige a asfixia das alternativas - até as posicionais, à falta de ideológicas com escala suficiente -, razão porque vale tudo, até a estupidez (ah, falhei no contorno ao cítrico vocábulo!) e o obscurantismo - dois conceitos que na liquificadora da geo-política se fundem alegremente em fascismo. E é isto que é incentivado - do ISIS à Ucrânia, do Brasil à Grécia, da ALBA à China - a mesma ingerência estúpida, obscura, fascista e, por isso, desumana; e, por isso, assustadora, porque é possível dialogar com as raízes da convicção, mas os ramos enxertados da argumentação fanática só se retiram do ambiente com machadadas no tronco. E o passado também é presente.

A discussão das situações internas de todos os países ou regiões que sofrem dessa ingerência merece outra discussão. Este não é um artigo sobre justiça e injustiça, este é um artigo sobre debilidade - veja-se a foto acima... Brasil, 15 de março de 2015 (este link alarga o espectro da coisa). Débil é todo aquele que se enreda na sua fragilidade até ao ponto de perder a noção de si, de si no cosmos e do ridículo em si. Dizer que o Brasil (uma potência capitalista!) é comunista é tão sensato como reivindicar à nossa a nacionalidade divina (só que a segunda até tem piada!) - bradá-lo é tão legítimo como decapitar jornalistas estrangeiros (não, não tem piada). É a essência do fanatismo.
 
No reflexo do espelho do inverso do fanatismo está a luta política, as dinâmicas de classe e o progresso social; a antítese da liberdade é o obscurantismo; a luta pela ética (caráter) é a suprema e até esta guerra é amoral (do ISIS à Ucrânia, do Brasil à Grécia, da ALBA à China, etc, etc).

E o que é que isto tem a ver com o título?