quinta-feira, abril 16, 2009

Pela Liberdade do Sahara Ocidental


Fomos milhares a sair à rua. Vestimo-nos de branco, com vigílias à luz da vela e cordões humanos de encher cidades e atar com a sua vontade o mundo. Unimo-nos como nunca o fomos e lutámos com o ímpeto que se tinha perdido nos suores dos verões quentes. Havia lá longe um povo massacrado e a humanidade que nos resta pedia-nos que agíssemos. Um povo lá longe e, sim, no mais fundo de nós, escondido bem lá para o fundo, o remorso de sabermos que se agora caminhávamos a nós o devíamos por não termos caminhado antes.

O povo pertencia a um país chamado Timor-Leste a quem a liberdade chamou Lorosae. Saímos à rua e um país nasceu – não por nós, mas porque o país queria nascer. Mas saímos e rezámos e demos as mãos e fomos ao parlamento, a Estrasburgo, a Washington e New York e a verdade é que o país nasceu. Antes tínhamos saído à pressa de um território que durante 500 anos ocupámos, deixando ao abandono e à saciedade indonésia um território com povo lá dentro. Um povo que queria ser um povo de um território enfim deles mas que só por remorso e distância mereceu o nosso compadecimento – mas que mal ou bem conquistou a sua independência. Também porque saímos à rua e rezamos e demos as mãos e fomos a Estrasburgo, Washington, New York, sei lá, fizemos o que tinha que ser feito e não há mais ditos.

Imaginem outro país, mais perto. Alguém tinha fugido de lá e deixado à saciedade de outros um território com povo lá dentro, um povo que queria ser livre. Os outros entraram e não querem sair. Reconhecem a história?

Falo do Sahara Ocidental, onde passei a semana de Páscoa, junto de mais 42 portugueses, naquela que foi a maior delegação nacional a este país ocupado por Marrocos desde 1975, depois de Espanha ter fugido de lá. Eu e os meus companheiros, com as capacidades que temos, vamos tentar fazer com que, mais uma vez, por solidariedade genuína, os portugueses saiam à rua, rezem, dêem as mãos, se dirijam às instâncias necessárias, terrenas ou etéreas, para que, como Timor, também o povo Saharaui possa ser livre, num território que é o seu e que desejam porque é seu.

Vou aproveitar também este espaço para falar sobre a viagem e as experiências que vivi, que vivemos. Para discutir sobre a viagem e também sobre o que há a fazer para que, enfim, se fale mais da realidade do Sahara Ocidental, alterando a situação daquele povo que espera e luta por um país. Como já demonstrámos que somos capazes de fazer…

quarta-feira, abril 15, 2009

Entre deus e Maradona



Não frequento cultos de qualquer espécie, nem vejo necessidade, sinceramente, de existir um elemento etéreo a que a Humanidade se tenha de agarrar para justificar o que, num dado momento histórico, ainda não tenha justificação.

Inicio com este comentário uma reflexão acerca do documentário de Emir Kusturica, “Maradona”. Não sou um crente – assumo -, mas quando se fala em Diego Armando Maradona confesso que me calo face à justificação do (metafisicamente?) inqualificável. Não acredito, mas se fosse legítimo existirem as religiões que quiséssemos, não faltariam deuses de quem esperar milagres, ou representações simbólicas que moldassem os nossos hábitos – Maradona, nesta lógica, já tem seguidores e merece-o!

Por exemplo, Picasso era divino - há todos os testamentos e evangelhos nas formas geométricas das suas cores que justifiquem uma peregrinação aos museus em que está representado, comprovando aos mais cépticos que existe um inferno em Guernica e que nos sentiríamos nas nuvens celestes junto às Demoiselles d’Avignon; com Dali temos um purgatório constante, numa queda inexorável para a infinita perdição, numa semi-humanidade em fusão com os sonhos (a que nos ligarão os sonhos?); ler Saramago tem algo de oração, como um refúgio para um imaginário que nos salva ou que nos castiga na nossa dimensionalidade de não-saber-ao-que-estamos.

Enfim, Diego Maradona é toda a Divina Comédia. Se há algo maior que Maradona, só Maradona. Vê-lo correr driblando adversários é como alcançar o cume dos Himalaias com Os Lusíadas a salvo – fazemos parte da história porque vimos aquilo a acontecer, mas não compreendemos imediatamente o seu significado – apenas sabemos o que sentimos, para jamais o esquecer. E vê-lo cair humano, ou arrastar-se infernal pelos cantos obscuros de uma solidão que é tão maior quanto maior a solidão de não o podermos ver.

Com Maradona tudo é possível. Até a loucura de sermos iguais, assim divinos. Porque só entre iguais há perdão. E todos perdoamos a Maradona não ter sido sempre Maradona - porque estamos a falar de Maradona. Não perdoaríamos a quem fosse vulgar, por não ser assim igual, assim divino.

Maradona faz-me acreditar, e sei-o porque sorrio e fico feliz. E esse é o seu milagre. Obrigado Diego, por isso! E obrigado Kusturica, por nos lembrares.



sexta-feira, abril 03, 2009

Solidariedade com o Sahara Ocidental














Conselho Português para a Paz e Cooperação organiza
Missão de solidariedade portuguesa aos
Acampamentos de Refugiados do Sahara Ocidental

O Conselho Português para a Paz e Cooperação, partirá no dia 6 de Abril – próxima 2ª feira – para os acampamentos de refugiados Saharauis, localizados em Tinfuf , numa missão que junta 43 portugueses.

Essa missão integra-se no trabalho de solidariedade que o CPPC desenvolve há décadas com o povo Saharaui, forçado a viver no exílio, em acampamentos de refugiados, após a ocupação do Sahara Ocidental pelo Reino de Marrocos.

Actualmente, cerca de 200.000 Saharauis, essencialmente mulheres, crianças e idosos, somam às consequências do prolongado exílio, a diminuição da ajudar internacional, particularmente ao nível alimentar, mas que se reflecte também ao nível educativo e de assistência médica.

A presente situação exige de todos um reforço da solidariedade e de linhas de apoio, fundamentais para que não se verifique, num futuro próximo, mais uma catástrofe humanitária em África.

Nesse sentido o CPPC em parceria com o Crescente Vermelho e o Ministério da Educação da República Árabe Saharaui Democrática – RASD, assinou um protocolo de cooperação que visa a reabilitação da Escola Básica Syd Yayadih, localizada no acampamento de Dajla. Esta escola recebe 630 crianças, e é composta por 14 salas de aula, uma cozinha, refeitório, uma sala de professores e uma outra destinada a arquivos e apoio.

A missão do CPPC, fará a entrega dos primeiros donativos para a reabilitação da escola.

A vasta composição da delegação portuguesa – representantes de autarquias, sindicatos, institutos, associações, membros da comunicação social, cineastas, fotojornalistas, professores, médicos, advogados, informáticos e engenheiros do ambiente e energia solar, etc –, permitirá num futuro próximo, alargar a solidariedade portuguesa a outras áreas de intervenção e solidariedade com o povo saharaui.

O Conselho Português para a Paz e Cooperação deseja agradecer publicamente, a todos os envolvidos no projecto da Escola e na Missão, a forma entusiasta com que desde a primeira hora aceitaram este nosso desafio.

A Direcção Nacional do

Conselho Português para a Paz e Cooperação