quinta-feira, março 30, 2006

We'll always have Paris...

Os acontecimentos recentemente ocorridos em França têm tido algum protagonismo na comunicação social. Transparecem, nas notícias "dadas", as contradições de ambos os lados. Quer dizer, afinal não: sim, porque estudantes e sindicatos são os indivíduos que provocam distúrbios, só e apenas, sendo que o verdadeiro digladiar de ideias e as maiores implicações para o futuro dos franceses estão nas ambições pessoais dos governantes, a saber, as ambições do primeiro-ministro e do ministro do interior em serem, não ao mesmo tempo mas de preferência a partir das próximas eleições, o Presidente da República.
Enquanto isto, e voltando ao essencial, o problema gravíssimo colocado aos jovens franceses dissolve-se mediaticamente nos distúrbios - penso que marginais à grande mobilização e solidariedade vividas nas diversas acções, quem sabe encomendados à medida do gosto dos interesses do governo (já não era a primeira vez!). "E, no entanto, ela move-se!", sim, a Luta contra uma lei injusta que permitirá o despedimento sem justificações de qualquer jovem com menos de 26 anos! Continua nas acções de rua, nas manifestações altamente participadas e politicamente combativas, continua até no Parlamento francês, e continuará, já para a semana em mais uma acção de massas marcada por sindicatos e associações de estudantes, continuará até esta Lei desaparecer das intenções do governo.

Não pude deixar de notar, numa das notícias que vi, na presença do Eurodeputado do Bloco de Esquerda, Miguel Portas. Solidário com a luta, obviamente! E muito bem... Lesa ingenuidade a minha: desconfio, não pondo em causa as boas intenções, que Miguel Portas sonhe com acções deste género em Portugal, estudantes e trabalhadores na mesma luta, trabalhadores da Autoeuropa contra o Tratado de Bolonha, estudantes do Ensino Secundário contra o Pacote Laboral, os portugueses em massa a começarem a protestar, antes que lhe toque, contra a lei francesa... Pois, mas cá temos os nossos problemas, as nossas lutas, a nossa agenda. Solidários sim, não presos a problemas que não são directamente nossos.
Miguel Portas poderá continuar a enfatizar Foruns Mundiais e Quartier Latin's ao fim da tarde. E, quando voltar a Portugal, poderá dizer dramático para os companheiros as palavras acomodadas do Bogart em Casablanca: "We'll always have Paris!"... Lembranças de 68, esperanças de 2006, aquele passeio no Jardin du Luxemburg.