quarta-feira, julho 14, 2010

Do apelo ao New Deal

Um excerto do artigo publicado no Avante! desta semana:

"Estas conquistas só poderão ser alcançadas através de uma enorme luta de classes feita a partir da base. Em caso de vitória, sublinhamos, os ganhos obtidos não terão contudo eliminado os males do capitalismo nem os perigos que ele representa para os povos do mundo. No fim de contas, não há uma verdadeira resposta que não seja o desmantelamento tijolo a tijolo do próprio sistema capitalista e a reconstrução de toda a sociedade nos princípios socialistas. É uma coisa que a grande maioria da população aprenderá sem qualquer dúvida no decurso das suas lutas por um mundo mais igual, mais humano, mais colectivo e mais sustentável. Entretanto, é tempo de iniciar a organização de uma revolta contra o plafonamento imposto pela classe dirigente à despesa pública civil e pela protecção social na sociedade americana."
John Bellamy Foster e Robert W. Mcchesney

quarta-feira, julho 07, 2010

Ir à linha e cruzar...

Durante a década de 90 percorri todos os escalões de formação de futebol da UDV. Por falta de engenho e arte a minha carreira futebolística acabou aí, mas é com orgulho que recordo o peso da camisola que vesti – a nossa e nunca outra, sempre suada quando recolhíamos aos balneários.
A vivência desses anos transmitiu-me valores, que preservo. O principal: a União, pois claro – o que me ligava aos meus colegas, ao clube e à sua história, à cidade onde floresceu e aos frutos que tem dado - elevando as vitórias e encarando as derrotas de cabeça erguida, sabendo que não era só eu, mas que eu éramos todos, naquela camisola vermelha e branca (faço aqui um parêntesis, a bem da verdade, porque nos infantis, o número 11 que normalmente usava tinha debutado e entrei várias vezes em campo em tons cor-de-rosa!).

A União não é apenas o que a cronologia local nos diz: uma fusão de clubes, em busca de maior dimensão. Foi também um sinal dos tempos, a visão dos dirigentes da altura em afirmar que, enfim, juntos somos mesmo mais fortes. A união, então, não era apenas entendida em sentido lato, confundida com unitarismo, com a vénia “sim senhor” tão em voga naqueles tempos conturbados da nossa história, tão em voga também nos dias de hoje – era um assumir que é do confronto leal das diferenças que uma sociedade se moderniza e que a unidade se enriquece e nos enriquece. E só assim a vitória real é possível – não a vitória dos números, que isso é apenas desporto, mas a vitória de sabermos estar a formar mulheres e homens habilitados a participar e a assumir a sua cidadania, a funcionar em equipa, prezando a amizade e a lealdade, rejeitando a subserviência e o interesse unicamente individual.

Os dias de hoje carecem desse espírito. A população é afastada e afasta-se das decisões e, assim, esvaziam-se os valores de pertença em que se formam e reforçam as identidades, onde o sentido democrático das sociedades entorpece de morte.
Evitar esta dinâmica é responsabilidade de todos nós e, por isso, é importante louvar quem ainda dedica as suas horas e as suas capacidades mais brilhantes a construir uma estrutura que nos represente e em que nos possamos rever. Mas não só – é também preciso participar e fazer parte dessa mudança. Este é, desde já, o sucesso “desta” União, cujos resultados já se vêm, mas que importa ainda alargar e capacitar, inovando a sua acção e, dessa forma, fazer face aos desafios (desportivos, e socioculturais) que a complexidade dos “tempos modernos” lhe colocam.

Esta é, agora, a camisola que visto e suo. Encaro-a com a mesma responsabilidade com que vesti a outra (mesmo a cor-de-rosa!). A equipa contrária lançou-se contra nós com todos os seus meios e nós soubemo-nos defender. É preciso surpreender - as pernas ainda têm força por isso faço o que faço melhor: pego na bola e ganho em velocidade, chego à linha de fundo e cruzo. Confio e conheço os meus colegas e sei que vai ser golo...
in Jornal da UDV, nº 6, Junho de 2010