quarta-feira, maio 31, 2006

"A coisa aqui está preta!"

"(...) Aqui na terra 'tão jogando futebol
Tem muito samba, muito choro e rock'n' roll
Uns dias chove, noutros dias bate sol
Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta (...)"
Meu Caro Amigo, de Chico Buarque

A euforia emana dos estádios! Ondas de esperança percorrem os lusos corações, tão pouco habituados a acreditar em sucessos nacionais, tão habituados às caudas de rankings internacionais, tão acostumanos a apertar cintos que os cintos estão cheios de buracos.
E enfim aproxima-se o Mundial - a explosão patriótica, as bandeiras nas janelas, manifestações e romarias aos locais de passagem dos jogadores, a crença extasiada na vitória, tão perto de nós... E no entanto tão longe de tudo...
A emoção e a ilusão nacionais alteram indelevelmente o dia-a-dia das mais diferentes instituições: cadeias de supermercados que criam promoções, prometendo reembolso total em caso de vitória; instituições de Estado, a Assembleia da República, que altera a sua agenda para permitir aos deputados assistirem ao encontro entre Portugal e o México... Tantos e tantos exemplos de excitação nacional, de verdadeiro negócio patriótico. Na adorada Aldeia Global, rua da Europa, ouve-se novamente Portugal, a casa a defender! Apetece dizer: Nada contra a Selecção, tudo pela Selecção!

Pretende-se fazer esquecer que há vida além da Selecção, há problemas além dos do Futebol! Desemprego, recessão económica, desgovernações do governo, um futuro sem esperanças, ausência de perspectivas para uma grande fatia da população. Qualquer que seja o resultado da viagem até à Alemanha (que, aliás, espero que seja o melhor), nada vai mudar em Portugal, porque o governo é o mesmo, a maioria parlamentar é a mesma, o presidente da república é o mesmo, e nada disso vai mudar, assim como a forma como as dimensões das pobrezas portuguesas (económica e cultural) são e serão por todos eles encaradas.
"Mas o que eu quero é lhe dizer que a coisa aqui tá preta", diria o Chico Buarque, e digo eu a quem queira ouvir!

sexta-feira, maio 05, 2006

O "democrático" anticomunismo

República Checa
Dirigente comunista espancado na rua

Jiri Dolejs, vice-presidente do Partido Comunista da Boémia-Morávia (PCBM) e deputado da nação, foi brutalmente espancando por vários indivíduos que o interpelaram na rua chamando-lhe «comunista repulsivo».
A agressão teve lugar no passado dia 25, pouco depois de Dolejs sair do edifício do parlamento em direcção à estação de metro.
O dirigente comunista encontra-se sob cuidados médicos, apresentando ferimentos graves no rosto, que lhe afectam em particular o olho esquerdo.
O acto de violência foi claramente condenado pelo presidente do Partido, Vojtech Filip, pelo primeiro-ministro da República Checa, Jiri Paroubek e pelo presidente do Parlamento, Lubomir Zaoralek. Numa declaração oficial, os deputados afirmam condenar «as práticas fascistas que se manifestam na vida da República Checa».
Contudo, uma nota do PCBM constata que o presente ataque é indissociável da vasta e violenta campanha anticomunista em curso no país. E recorda que, recentemente, foi feita uma tentativa no senado e parlamento no sentido de proibir o uso da palavra «comunista»; a Juventude Comunista Checa (KSM) foi alvo de uma operação conduzida pelo Ministério do Interior que visava a sua ilegalização; a propaganda anticomunista é veiculada através do sistema público de educação pela denominada «organização humanitária» «People in Need».
Os comunistas checos sublinham que «a violência é encorajada pelo próprio Estado», dando ainda como exemplo uma campanha anticomunista patrocinada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros que produziu camisolas com a inscrição «Mata um comunista para fortalecer a paz».

in Avante!, 4 de Maio


Este não é, infelizmente, caso único da deontologia democrática que vários estados europeus (inclusivamente, da "democrática" UE) têm apresentado, no sentido de condenar a ideologia comunista e o marxismo-leninismo enquanto concepção ideológica e organizativa.
Analisando a História, encontramos paralelo deste com outros casos que desembocaram em episódios dramáticos, senão nos mais dramáticos episódios que a Humanidade tem vivido.
Não se pode ser anticomunista e ser democrata. Pelo contrário - a História também revela que o anticomunismo se liga directamente às mais reaccionárias das concepções politicas, para onde serão arrastados ou por quem serão arrastados todos aqueles que começaram "somente" por ser anticomunistas.
Fica a reflexão.