quinta-feira, dezembro 27, 2012

Revelações de Final de Ano

Revelações de final de ano, em jeito de balanço.

1 - Adoro mandar. Em geral gosto de mandar com outros, democraticamente. Mas sou um ditador quando mando alguém à merda.

2 - O melhor café do mundo não é o de S. Tomé! O melhor do mundo são as crianças.

3 - Há pessoas que têm pobres de estimação. Os pobres deviam ter certas pessoas para estivação.

4 -  Há dois dias que durmo mal, com pesadelos - é o subconsciente a pedir-me Mefaquin! Ou a voz do Passos Coelho a pedir-me para emigrar.

5 - Mais vale mil anas em privado que uma ANA privatizada!

6 - Todas as pessoas inteligentes deviam ter comportamentos símios uma vez por ano, para que todas as outras entendam que, afinal, as pessoas inteligentes são alcançáveis e entendem o sexo casual como uma coisa muito boa e não apenas no seu imenso potencial estético-sociológico!

Seis revelações, sendo aqui o seis o inverso de nove, que quer dizer, cabalisticamente e em todas as línguas, novo, o que quer dizer que seis é velho.

Acabou-se 2012, em Matanzero.

terça-feira, dezembro 18, 2012

Criatividade Matemática

Problema:
4 - 3 - 5; 1, 4, 3: 5. 1, 3, 1, 5 - 2 - 1.
3: 4. 4, 2, 3; 5 - 3 - 3; 3, 2?
2 (3), 4 - 3...
1, 2, 4! 3: 5, 3, 3; 1, 4, 6 - 4 -, 5, 3, 2: 4, 2. 3.

Resultado:
Às vezes o frio - essa faca afiada - corta-me os nervos sem piedade; frio, onde me encontro desprotegido, sem aparência de consolo: exijo ao sol que exista. Aqui, abraçando o peito, avanço, sem vontade de me reconhecer - ou reaquecer - sozinho.
Assim não consigo: Estar aqui não compensa. Não são só saudades, no vazio, que aqui sinto; é uma ânsia de suor - espontaneidade do suor - que procuras respirar; ou miragem desolada, porque não?
Resta-me viajar (para muito longe), ao cerne da mulher - Vem para mim...
Paro, prescuto silêncios, sonho com tantas distâncias! Retomo o caminho: para longe do inverno frio, mergulho sem mar, onde me encontro; longe, onde brilha o sol, e a noite é amor refeito - emaranhado de ondas nuas -, e a aurora é ocaso, acaso sem tempo, pudor perdido: vem à viagem comigo, ao sul. Como se quisesses.

(Exercício de escrita criativa)

Como nossos pais


Vivo à noite e, à noite, as cidades, mesmo as pequenas e suburbanas como a que moro - quanto mais as grandes capitais! - vão todas ao encontro da pena. Pena, como uma neblina, que arrasta a perda para lá da vida, como uma longa solidão feita de moinhos de vento que ousamos atacar sem tempo.
A noite traz memórias que julgávamos perdidas, transplanta em quem vagueia a genética dos espaços, os passos dados por quem passou por aqui antes, em noites frias como estas, indo para o trabalho ou saindo da tasca, indo para a tasca ou para encontro proibido - de política ou de amor -, sei lá, passos orgânicos de uma identidade que ninguém nem nada destroçava, feitos de uma juventude sem idade. Passos de quem estava, de quem, à noite, marchava contra a noite; de quem vivia e sonhava; de quem construia castelos de futuro com fundações de esperança. De quem destilava as palavras para as beber sem outro apego que não fosse o que pudessem trazer as palavras.
A noite é uma desolação só, acompanhada de tudo o que nos falta. O tempo passou pela minha cidade e, na paisagem, a cidade cresceu. E cresceu também e principalmente em sombras e silêncios. O sangue da cidade, esse, espessou no cal das suas artérias, amoleceu e agora conta divisas e já vomita o que ainda não comeu - dos que vieram depois, quem ainda está, adensa-se ou quer partir!

Na minha cidade reúnem-se, solenemente, para cantar e contar longas histórias antigas, amigos dos meus pais para quem o tempo foi sincero. Muitos deles é que não foram, mas isso são outras histórias que merecem ser contadas depois. O tempo traz-mos, de bandeja, para me rever neles. Não no silêncio, mas na alegoria do silêncio. E das sombras que nos perseguem. Mesmo cantando!
É justo que sintam essa dor comigo e com os meus amigos - fizeram muito, mas trouxeram-nos de volta ao sítio de onde partiram. Será também justo que resistam connosco, num matrimónio de gerações, ou que se calem para sempre.

(Relembrando Brecht: ”Os tempos modernos não começam de uma vez por todas…, o meu avô já vivia numa época velha, o meu neto talvez ainda viva na antiga. A carne nova come-se com velhos garfos. Épocas novas não a fizeram os automóveis, nem os tanques, nem os aviões sobre os telhados, nem os bombardeiros. As novas antenas continuam a difundir as velhas asneiras. A sabedoria continuou a passar de boca em boca.”

Mas não se vê à noite. Não aqui.)