quarta-feira, março 06, 2013

Reflexões de 6 de Março

A vida é o direito mais basilar e essencial da existência terrena, sobre o qual todos os outros direitos (e deveres) assentam. O silogismo não é complicado, mesmo considerando inevitáveis gradações do conceito vida; e todas as formas de vida; e todas as etereadades que, uns e outros, garantem à vida, aqui e depois.
João Cabral de Melo Neto dizia:

"(...) é difícil defender, 
só com palavras, a vida, 
ainda mais quando ela é 
esta que vê, severina 
mas se responder não pude 
à pergunta que fazia, 
ela, a vida, a respondeu 
com sua presença viva.


E não há melhor resposta 
que o espetáculo da vida: 
vê-la desfiar seu fio, 
que também se chama vida, 
ver a fábrica que ela mesma, 
teimosamente, se fabrica, 
vê-la brotar como há pouco 
em nova vida explodida 
mesmo quando é assim pequena 
a explosão, como a ocorrida 
como a de há pouco, franzina 
mesmo quando é a explosão 
de uma vida severina."


A vida é o grande palco. E, eh pa, vale a pena ser vivida - no êxtase e na angústia, no grito e no silêncio, no emaranhado das dúvidas e no passo para a realização, no medo que nos paralisa e no medo que nos faz avançar (a que tantas vezes chamamos coragem). É a grande explosão de cor, o carnaval no mundo, o que está aí a nos responder, liminarmente, que é por este direito que nos cumprimos.


Mais complicado, ou discutível, é dizer que a vida não é um valor absoluto e sequer está no topo na pirâmide dos valores. Digo eu: o conceito de vida é imensamente relativo. De outro modo, não existiam homens que davam a vida. Assim: dar a vida. Acaba. Recicla-se. Pronto. Ponto. E o que fica? O que fizemos. O que fizemos com os outros valores, é verdade que também eles relativos, que superam o de vida, pelos quais abdicamos do primeiro e mais fundamental direito que recebemos à nascença. Dá-se a vida por Amor, pela Liberdade, pela Pátria, pela Dignidade, pelo Futuro. Cada um é para o que se faz.
Uma pessoa apenas é uma onda, mas duas já são um mergulho. E vale a pena multiplicar os mergulhos. Um aglomerado de viventes faz um quadro dinâmico, frenético. E por isso, para a continuação dos mergulhos, para o insuflar das marés, há homens e mulheres que dão a vida. Ou, pelo menos, a isso a dedicam, como bens maiores que eles. Raros? Por o serem, sim. E quando, nestes casos, a vida é extinta, pronto... Ponto. Fica tudo o que está acima de nós e para o qual contribuímos. Fica. A narrativa continua.
O futuro não pertence a ninguém. Mas está mais próximo de quem o constrói. E mais blindado ao passado quando se constrói com os outros. Tudo o mais, é o que por que lutamos. O melhor de tudo, é que a narrativa continua sem nós.

Hasta Siempre, Comandante Chavez!

Grande mar do PCP, desde há 92 anos:

Deste-me a fraternidade para com o que não conheço.
Acrescentaste à minha a força de todos os que vivem.
Deste-me outra vez a pátria como se nascesse de novo.
Deste-me a liberdade que o solitário não tem.
Ensinaste-me a acender a bondade, como um fogo.
Deste-me a rectidão de que a árvore necessita.
Ensinaste-me a ver a unidade e a diversidade dos homens.
Mostraste-me como a dor de um indivíduo morre com a vitória de todos.
Fizeste-me edificar sobre a realidade como sobre uma rocha.
Tornaste-me adversário do malvado e muro contra o frenético.
Fizeste-me ver a claridade do mundo e a possibilidade da alegria.
Tornaste-me indestrutível, porque, graças a ti, não termino em mim mesmo.

(Ao meu Partido, Pablo Neruda)

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