terça-feira, novembro 09, 2004

Brigada "Pablo Neruda"

A Brigada
À data da publicação deste artigo já terão passado dois meses desde o regresso de Cuba da delegação da JCP integrada numa Brigada de Solidariedade a esse país das Caraíbas. Esta Brigada, “baptizada” de Brigada “Pablo Neruda”, integrava jovens de vários países da Europa, nomeadamente - além de Portugal - da Grécia, da Alemanha, da Turquia, do Chipre e da República Checa, totalizando um total de 45 pessoas. Como objectivo principal, a Brigada “Pablo Neruda” tinha de contribuir para a reconstrução de uma residência universitária, na Universidade de Matanzas “Camilo Cienfuegos”; outro objectivo, não menos importante, era o de conhecer o mais aprofundadamente possível a realidade cubana, as suas dificuldades e os seus pontos positivos, no sentido de, chegados ao nosso país, desmistificarmos com a verdade do que vimos o que por cá se conta de Cuba. Em relação à reconstrução da residência, fizemos o nosso melhor; em relação ao conhecimento que temos da realidade cubana, permite-nos, de facto, falar da Revolução com a qual somos solidários com conhecimento de causa, nem mais nem menos, apenas com o conhecimento de causa da vivência de três semanas como cubanos.
A Revolução. A interferência dos Estados Unidos
Comemoram-se neste ano de 2004 os 45 anos da Revolução Cubana. A história destes 45 anos é a história da luta de um povo pela concretização da sua independência, da sua soberania. É a história da construção de uma sociedade onde não caiba a exploração do Homem pelo Homem, uma sociedade humanista onde o indivíduo se possa concretizar, uma sociedade feita pelo povo para o povo. E os efeitos das políticas da Revolução podemos constatá-los – desde a eliminação do analfabetismo logo nos primeiros anos, à elevadíssima taxa de escolaridade, nomeadamente de formação superior (espera-se que em poucos anos Cuba se torne o país mais culto do mundo), à total ausência de epidemias ou de doenças características dos países em vias de desenvolvimento (dos quais Cuba faz parte), às condições de segurança, às preocupações ambientais, ou às acções de solidariedade para com o resto do mundo. E constatámos isto abordando livremente as pessoas na rua, desde o velho que lia o jornal na rua, ao jovem que desejava as nossas roupas de marca, à família que almoçava em casa ou à senhora que aguardava ser chamada no hospital. E tamanhas realizações só se conseguem porque em Cuba todos os graus de ensino são gratuitos e universais (chega-se a dar um salário para que as pessoas tirem um curso), porque o acesso à saúde é totalmente gratuito e universal, porque a rede de técnicos em todas as áreas é alargada e activa, porque em tudo o que se faz há o envolvimento e a participação de todos. Mas Cuba não tem somente coisas boas. Os erros do passado e os problemas do presente são, aliás, abertamente assumidos e analisados. Contribui, no entanto, como entrave ao pleno desenvolvimento do país um facto fundamental: a constante interferência dos Estados Unidos (EEUU). Interferência em vários planos: militar, não hesitando em recorrer a tácticas terroristas; económica, através do bloqueio de 45 anos, agora aguçado pela administração Bush; e social, incentivando a emigração ilegal dos “balseros” ao mesmo tempo que reduz as possibilidades de emigração legal, reduzindo os números de vistos de entrada e o número de viagens que um trabalhador cubano a viver nos EEUU pode fazer à sua ilha natal (ainda assim, 90% dos cubanos que emigram vão por via legal). De facto, quando nos confrontámos com a degradação dos utensílios de construção, com o estado dos edifícios, com a preparação mental de resistência que as pessoas tinham em relação a uma esperada invasão militar da ilha, compreendemos que o que Cuba tem hoje em dia a si o deve, mas é alheio ao seu povo e aos seus governantes a maioria das coisas que lhe falta. Outra questão que foi várias vezes colocada foi a da continuidade da Revolução, nomeadamente no pós-Fidel. A esta questão também a resposta dos cubanos foi peremptória – a Revolução vai continuar porque o povo está com ela, porque não quer voltar atrás, porque a Revolução é o povo, em cada cubano há um Fidel Castro e não é o seu desaparecimento físico que nos vai impedir de continuar, diziam.
Últimas Notas
Com este artigo tentou-se dar uma ideia do que se sentiu durante a estadia em Cuba. Só uma ideia muito vaga, visto não ser possível colocar neste espaço a infinidade de coisas que foram sentidas naquelas três semanas. Essencialmente vimos, ouvimos, presenciámos coisas que escapam a turistas e que nos aparecem, de quando em quando, totalmente deturpadas pela comunicação social. Como se disse no início, podemos agora falar com conhecimento de causa. E, nem mais nem menos do que vimos, acho que se pode dizer que se Cuba não é um país perfeito (porque nenhum sistema humano o é), pelo menos, é justo. E quantas vezes cada um de nós não pensou nas léguas civilizacionais a que o nosso país “civilizado” se encontra…Ter ido a Cuba aumentou-nos a confiança que, sim, é possível um mundo mais justo, com o socialismo, rumo ao comunismo. E aqui de Portugal juntamos as nossas vozes às vozes dos companheiros cubanos para dizer como o Che: “Hasta la Victoria Siempre”.
Luis Capucha
(Este artigo encontra-se em www.cadernovermelho.pt.vu)

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