terça-feira, novembro 09, 2004

15 anos depois

Pois é, faz hoje 15 anos sobre a queda do mundo de Berlim!
A efeméride sugere sentimentos contraditórios: por um lado, a existência de muros de qualquer espécie não pode ser aceite de ânimo leve; por outro lado, o simbolismo histórico do derrube do Muro provoca a consternação de quantos, por esse mundo fora, acreditaram e acreditam na construção de uma sociedade socialista.
A própria criação do Muro de Berlim é contraditória. O capitalismo dominante pretende resolver essa contradição atribuindo as culpas ao "império soviético", pelo que a queda do muro significa a libertação da Alemanha e do mundo do perigo do comunismo. Esta é a mensagem que passou nestes 15 anos, é a mensagem a que a RTP (pelo menos) vai dedicar a sua programação nocturna.
Mas a realidade não é tão simples. A contradição moral que constitui o primado da questão terá que ser vista à luz de um pós-guerra (2º Grande Guerra) e de um processo de paz bastante complexo. Talvez a sua resolução assente no facto de a União Soviética nunca ter dado o primeiro passo para a agressão, donde o Muro, sendo por princípio criticável, é justificado pela necessidade de defesa contra as pressões que, das mais diversas formas, os países da recém criada NATO impunham.
15 anos depois, não se pode dizer que o povo da ex-RDA ou de qualquer dos outros países da chamada europa de leste tenha visto a sua vida melhorar. Pelo contrário: a alteração de sistema económico fez com que toda a sociedade desses países entrasse em colapso, catapultando o desemprego, as criminalidades e a emigração.
É interessante constatar que grande parte dos alemães da ex-RDA (61%) não estão agradados com o funcionamento da democracia (leia-se democracia parlamentar) enquanto 76% consideram que o socialismo é uma boa ideia que teve uma má aplicação (tirado do Avante! nº1605). O desagrado com o "abraço ao capitalismo" e a euforia deveniente dá-se logo pouco tempo depois da queda do muro, quando se constata que o mundo de sonho e de abundância que o ocidente fazia de si mesmo não correspondia à verdade.
Infelizmente, mesmo quem queira ver tem algumas dificuldades! As extraordinárias realizações sociais da URSS e dos países socialistas parece que se perderam no esquecimento logo após o colapso deste bloco. E as ofensivas do capitalismo não só não pararam como ganharam outro fôlego- a verdade histórica é deturpada, ao significado das coisas é dado outro significado, erguem-se muitos outros muros, reais e imaginários.
Mas para o mundo a leste do fantasma do Muro de Berlim ainda há quem consiga discernir algo mais parecido com a verdade, alguém que não vê no derrube de um muro o derrube de um sonho. Pelo mundo inteiro, os ideias socialistas e comunistas resistem e avançam, nas mentes de homens e mulheres que sonham e constroem um mundo diferente.

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