quarta-feira, julho 07, 2010

Ir à linha e cruzar...

Durante a década de 90 percorri todos os escalões de formação de futebol da UDV. Por falta de engenho e arte a minha carreira futebolística acabou aí, mas é com orgulho que recordo o peso da camisola que vesti – a nossa e nunca outra, sempre suada quando recolhíamos aos balneários.
A vivência desses anos transmitiu-me valores, que preservo. O principal: a União, pois claro – o que me ligava aos meus colegas, ao clube e à sua história, à cidade onde floresceu e aos frutos que tem dado - elevando as vitórias e encarando as derrotas de cabeça erguida, sabendo que não era só eu, mas que eu éramos todos, naquela camisola vermelha e branca (faço aqui um parêntesis, a bem da verdade, porque nos infantis, o número 11 que normalmente usava tinha debutado e entrei várias vezes em campo em tons cor-de-rosa!).

A União não é apenas o que a cronologia local nos diz: uma fusão de clubes, em busca de maior dimensão. Foi também um sinal dos tempos, a visão dos dirigentes da altura em afirmar que, enfim, juntos somos mesmo mais fortes. A união, então, não era apenas entendida em sentido lato, confundida com unitarismo, com a vénia “sim senhor” tão em voga naqueles tempos conturbados da nossa história, tão em voga também nos dias de hoje – era um assumir que é do confronto leal das diferenças que uma sociedade se moderniza e que a unidade se enriquece e nos enriquece. E só assim a vitória real é possível – não a vitória dos números, que isso é apenas desporto, mas a vitória de sabermos estar a formar mulheres e homens habilitados a participar e a assumir a sua cidadania, a funcionar em equipa, prezando a amizade e a lealdade, rejeitando a subserviência e o interesse unicamente individual.

Os dias de hoje carecem desse espírito. A população é afastada e afasta-se das decisões e, assim, esvaziam-se os valores de pertença em que se formam e reforçam as identidades, onde o sentido democrático das sociedades entorpece de morte.
Evitar esta dinâmica é responsabilidade de todos nós e, por isso, é importante louvar quem ainda dedica as suas horas e as suas capacidades mais brilhantes a construir uma estrutura que nos represente e em que nos possamos rever. Mas não só – é também preciso participar e fazer parte dessa mudança. Este é, desde já, o sucesso “desta” União, cujos resultados já se vêm, mas que importa ainda alargar e capacitar, inovando a sua acção e, dessa forma, fazer face aos desafios (desportivos, e socioculturais) que a complexidade dos “tempos modernos” lhe colocam.

Esta é, agora, a camisola que visto e suo. Encaro-a com a mesma responsabilidade com que vesti a outra (mesmo a cor-de-rosa!). A equipa contrária lançou-se contra nós com todos os seus meios e nós soubemo-nos defender. É preciso surpreender - as pernas ainda têm força por isso faço o que faço melhor: pego na bola e ganho em velocidade, chego à linha de fundo e cruzo. Confio e conheço os meus colegas e sei que vai ser golo...
in Jornal da UDV, nº 6, Junho de 2010

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